Acadêmico Juliano De Ros

CURRÍCULO

LITERÁRIO

 

 

Biografia resumida – Juliano De Ros

 

 

 

Poeta e escritor, natural de Caxias do Sul-RS, Juliano De Ros é membro titular da Academia Caxiense de Letras. Graduado em Engenharia Civil, pós-graduado em Planejamento Energético Ambiental Municipal, escreveu o Caderno de Encargos do Município de Caxias do Sul – Edição de 1993.

 

Participante de diversas antologias de poesia desde 1989, publicou em 2017 o livro de poemas Semovente.

 

Coordenador do Movimento Poético Caxiense, que reúne poetas, escritores e apreciadores da poesia e  da literatura, publica o perfil @poesia.semovente no Instagram e o canal Poesia Semovente no YouTube. É também autor do blogue poesiasemovente.blogspot.com.br


Degustação Literária


Poema Cântico do Outono, escrito pelo Acadêmico em 1992 e que integrou o livro Semovente, publicado em 2017




Cântico de Outono

Ao poeta se permite afirmar,
que recordar é reviver...

I

Da janela vejo o horizonte,
As luzes brilhando,
Descobrindo a cidade...

No céu,
Há um ponto luminoso.
Seria Vênus, Saturno,
Ou talvez uma estrelinha,
A lumiar, assim, sozinha,
Toda tristeza desse outono...

Procuro as ruas, e não as vejo,
Os paralelepípedos de basalto escuro,
Casas cercadas de muros,
A chaminé da antiga madeireira...

II

À noite, o outono traz seu cântico,
Iluminado em tons violeta,
Por entre a galhada da paineira.

Vem lembranças do passado,
Tantas, esvanecidas pelos anos,
Feito cores fugidias,
Almas dos meus sonhos,
Tal herança de outonos,
De feições de outros dias.

III

Da janela vejo a cidade,
O brilho das luzes,
O horizonte,
O céu,
A estrelinha...

Sinto dentro de mim
Uma força que se evoca,
E muda o sentido das coisas,
Acalanta a tristeza da noite...
Uma força, que infinita,
Traduz todas as palavras
Em uma simples oração,
Perdida na bruma do outono...

___


Filosofia, Scliar e Informática Anos 80

 

Senhores,

Neste momento de solidão

Declaro-vos:

¡No pasarán!

¡No pasarán!

 

No fio do vidro quebrado,

Aguda navalha,

Sinto o corte da fibra.

 

Quente estilete dilacera a vontade,

Oprime objetivo

E mata a existência.

¡No pasarán!

¡No pasarán!

 

Esvai-se a gota de sangue,

Penso, a última.

E uma moleza morna

Alcooliza o instinto.

 

Senhores,

Não sei ao certo,

Não há referência,

Daí, a inconsciência

E o nada.

A alma morreu.

…............................

Não existe alma sem corpo.

                                   (Pode existir corpo sem alma)

Parece um programa rodando em uma UCP,

Se esta quebra?

Ele está gravado no disquete?

Por certo!

…...................................................

O homem não possui disk-drive...

___


O Prodígio Inútil

  

Também o prodígio inútil

Vive sua obra singular,

Sensações que só lhe dizem respeito.

Ergue um castelo

No íntimo de seu lar,

Profecias de um segundo,

As glórias ovacionadas por paredes nuas.

Entre as baratas,

Sua fama

De assassino.

 

Ele, o prodígio pinkfloydiano,

Ídolo de si próprio,

Gênio das baratas e paredes,

Cético

Por obrigação,

Vive, mas não o crê.

Se o fizesse,

Estancaria em exultação contínua

E, em curto-circuito,

Morreria, morreria, morreria...

___


CRÔNICAS DO OUTRO DIA  (31/03/2018)

Juliano De Ros

 

 

 A fila do caixa do mercado

 

            Fim de tarde no grande supermercado. Cansado pelo dia de trabalho, dirijo-me rapidamente para a fila do caixa, portando a cestinha com meia dúzia de alimentos para um café travestido de janta. Apesar dos esforços da operadora, a fila flui lenta; sistema eletrônico congestionado pelo número de clientes pré-Páscoa.

            À minha frente, um cliente já efetuando o pagamento e uma mocinha aguardando com seu carrinho. O caixa é para quem leva até dez itens, algo que  aparentemente estaria sendo respeitado no carrinho da moça. Mas, chegada sua vez, ela começa a dispor as mercadorias sobre a esteira do caixa e, sob dois objetos mais volumosos, eis que aparecem alguns sabonetes e outras coisas pequenas, configurando a transgressão. Estimei grosseiramente um total de quinze a dezoito itens. Nada que fosse digno de nota, para mim.

            Imediatamente atrás, um senhor alto, aparentando uns quarenta e cinco anos, disparou:

-        Tem gente que não aprendeu a contar!

            No que virei-me, ele indicou a compra da mocinha sobre a esteira, com olhar reprovador. Assenti com um dar de ombros e um "é" quase inaudível. A mocinha virou-se e justificou, com voz angelical, o carrinho embicado fora da fila, quase ao meu lado:

-        É que eu não queria passar o carrinho.

            Hã? Ela está com mais mercadorias que as admitidas nesta fila e justifica com um "eu não queria passar o carrinho"?! O que tem a ver uma coisa com a outra? Nem terminei de me admirar e o senhor atrás de mim lança um furioso:

-        É! Tem gente que não se emenda! Esse caixa é para até dez unidades!

            A moça virou-se com cara de espanto e entoou um sincero "desculpe", ao que esbocei o aceite com os olhos, apesar de não ser o autor do protesto. O senhor de trás inflamou-se e proferiu:

-   Você atropela alguém na rua e depois vem pedir desculpas! Como se isso bastasse?! É por isso que o governo está cheio de corruptos... com esse tipo de atitude o país não vai mudar nunca!

         A mocinha virou as costas para não encarar o opositor e efetuou o pagamento com pressa, enquanto eu interpunha-me entre o caixa e o senhor irado, que continuava em atitude e discurso constrangedores.

            Saí mais triste do mercado. Saí de lá meditando na reprimenda  desproporcional à falta. Saí ciente de que a intolerância pode ser erro mais grave que o deslize intencional, ou não, de exceder o número de produtos do caixa rápido do mercado. Certo de que a justiça à ponta de faca não construirá um futuro melhor para todos nós.



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